sábado, 27 de setembro de 2025

A História Recente da Administração do Porto de Manaus e a Crise da Infraestrutura

 Por José Rocha

Nos últimos tempos, a administração do Porto de Manaus tem ganhado destaque na imprensa local, especialmente em matérias divulgadas pela Rede de Rádio e Televisão Tiradentes e pelo Portal BNC, que colocaram no centro das atenções o senhor Alessandro Bronze.

O tema desperta muito o meu interesse, pois sempre fui apaixonado pela história da nossa cidade. O Porto de Manaus — o Roadway — faz parte não apenas da memória da nossa capital, mas também da minha trajetória pessoal: marcou minha infância, minha vida profissional e o meu trabalho como historiador dedicado à preservação da história de Manaus.

Na minha infância, meu saudoso pai levava-me para passear no cais do porto. Eu ficava impressionado com o tamanho dos navios ancorados — aquilo me marcou profundamente. Na fase adulta, trabalhei para muitas empresas do comércio e do Distrito Industrial, sempre na área de comércio exterior, o que me permitiu entrar no porto centenas de vezes para acompanhar despachantes e liberar mercadorias estrangeiras. Viajei muito para o interior, na maioria das vezes partindo e retornando pelo Roadway. Após aposentado, ainda caminho por lá, para lembrar os velhos tempos e admirar o maior porto flutuante do mundo.

A história do porto é bem conhecida por quase todos os manauaras. Desde a sua construção, em 1906, administrado inicialmente por ingleses durante o ciclo da borracha, até se tornar ainda mais visível no início dos anos 2000, quando o então governador Amazonino Mendes transferiu a administração do Porto de Manaus para uma empresa controlada pela família do ex-senador Carlos Alberto De Carli. Esse processo de privatização foi bastante contestado e gerou longas disputas judiciais.

Em 2002, a deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB) solicitou uma auditoria especial na SNPH, apontando diversas irregularidades. Uma das principais acusações era de que Amazonino Mendes teria repassado cerca de R$ 35 milhões em recursos públicos para empresas da família De Carli, visando realizar a privatização. A crítica central era de que a privatização teria sido feita com dinheiro público. O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a avaliar relatórios sobre o processo, dada a gravidade das denúncias de má gestão e uso indevido de recursos.

O governador baseou a “privatização” do Porto de Manaus na Constituição Federal de 1988 (CF/88), Artigo 20, inciso VI, que estabelece que os portos marítimos, fluviais e lacustres são bens da União. Já o Artigo 21, inciso XII, alínea "j", permite que a União delegue a administração desses portos para estados, municípios ou consórcios públicos, ou ainda conceda à iniciativa privada, mediante contratos de concessão ou arrendamento, conforme a legislação específica (como a atual Lei nº 12.815/2013, conhecida como Lei dos Portos).

Em 2013, pessoas ligadas à administração do Porto de Manaus tiveram bens e valores bloqueados pela Justiça Federal, em uma ação civil pública por improbidade administrativa movida pelo MPF. O motivo: a venda ilegal de bens pertencentes à União, como partes do cais flutuante e ônibus.

Curiosamente, anos depois, em 2018, durante seu quarto mandato como governador, o próprio Amazonino Mendes assinou um termo para que o Governo do Estado reassumisse a administração do Porto de Manaus, citando a necessidade de o estado retomar o controle da política portuária.

Com a construção da Manaus Moderna, na Avenida Lourenço da Silva Braga, o Porto de Manaus passou a estar interligado com o Distrito Industrial — os navios de longo curso e de cabotagem descarregavam contêineres nos pátios do porto, e, após liberação, esses eram transportados até o DI. Porém, com a implantação de dois portos no Paredão, bem próximos ao Distrito Industrial, o Porto de Manaus perdeu uma importante fonte de receita.

A administração do porto resolveu, então, alugar seus armazéns, fechou o Museu do Porto e destruiu um armazém próximo ao Mercado Adolpho Lisboa para a construção de lojinhas — o que acabou sendo interditado pelo IPHAN após a demolição. Interditou também a Travessa Vivaldo Lima, transformando-a em via exclusiva para veículos que acessam o porto, além de ocupar o Palácio do Tesouro do Amazonas — casarão que havia sido reformado com verba federal para abrigar a Casa de Leitura Thiago de Mello — e o Armazém 15, que deveria ter sido aberto ao público. Houve também a destruição de todo o quarteirão onde atualmente está sendo recuperado o Complexo Booth Line.

A gestão do Porto de Manaus foi retomada pelo poder público em 2019. A administração foi novamente delegada ao Governo do Estado do Amazonas, por meio de convênio com o Governo Federal, substituindo a gestão anterior que incluía a Companhia Docas do Maranhão (Codomar), posteriormente extinta.

Tudo isso gera muita confusão:

Os portos brasileiros são de responsabilidade do Ministério de Portos e Aeroportos. Além disso, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) é a autarquia federal encarregada da regulação e fiscalização do setor portuário e aquaviário.

O Estado do Amazonas, por sua vez, foi delegado pela União para exercer o papel de autoridade portuária, por meio da Superintendência Estadual de Navegação, Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH).

Quanto à exploração comercial, o Governo do Amazonas delegou, em 2001, a gestão para a Empresa de Revitalização do Porto de Manaus S/A (ERPM) e para a Estação Hidroviária do Amazonas S.A. (EHA), no contexto da privatização e subsequente reestruturação da administração do porto após o polêmico período da família De Carli. Essa empresa é uma Sociedade Anônima Fechada, ou seja, não possui ações na Bolsa de Valores. De acordo com sites de busca, o CNPJ é 04.487.762/001-15, última alteração em 03/11/2005, com sede na Rua Marquês de Santa Cruz, 25. Constam os dirigentes/sócios: Walmir Oliveira de Mendonça, Raimundo Nonato de Souza Lopes e Kamila Oliveira Flores.

Atualmente, tanto a Rede de Rádio e Televisão Tiradentes quanto o Portal BNC mencionam o nome do senhor Alessandro Bronze como figura ligada à administração do Porto de Manaus. De fato, seu nome aparece em registros relacionados aos períodos de privatização e disputas judiciais — sendo citado como “ex-administrador do porto privatizado de Manaus” em notícias de 2013 e como gestor vinculado ao clã De Carli nos anos 1990 e 2000. O empresário e radialista Ronaldo Tiradentes criticou publicamente Bronze, acusando-o de "ganhar uma fortuna no Porto de Manaus" e de penalizar a população mais pobre com a cobrança indevida de pedágios pela gestão portuária.

Recentemente, surge também o nome da empresa DCBR Participações Ltda., CNPJ 31.616.644/0002-07, filial criada em 02/10/2023, com sede no mesmo endereço: Rua Marquês de Santa Cruz, 25. Os sócios-administradores: Alessandro Bronze Toniza e Carlos Antônio De Carli.


Resumo da Ópera:

  • A União é a proprietária do Porto de Manaus.
  • O Governo do Estado do Amazonas é a autoridade portuária.
  • A Estação Hidroviária do Amazonas S.A. (EHA) é quem atualmente administra e opera o porto.
  • A holding DCBR Participações Ltda., dos sócios, Alessandro Bronze Toniza e Carlos Antônio De Carli Filho, possivelmente é a sócia majoritária da EHA. Ou seja, são eles que devem comandar de fato o Porto de Manaus.

O ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, estará em Manaus nesta segunda-feira (29 de setembro) para participar de diversas cerimônias, incluindo a entrega de balsas e uma viagem para Eirunepé e Envira. Será uma excelente oportunidade para ele conhecer in loco a situação atual do Porto de Manaus.

Um detalhe importante: o Governo Federal, por meio do PAC, investirá R$ 900 milhões na construção do novo Porto da Manaus Moderna (atrás do Mercado Adolpho Lisboa). Após sua conclusão, é possível que a gestão seja delegada à Prefeitura de Manaus, que, por sua vez, poderá concedê-lo à iniciativa privada para exploração comercial.


E se essa concessão cair novamente nas mãos da DCBR Participações Ltda.?

Ficará tudo nas mesmas mãos!

Fontes: BNC/EHA/Gemini/ChatGPT/IPHAN/RF/Google/TV Tiradentes/






sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Foto de autoridades do passado que fizeram história e continuam lembradas até hoje.

 



Por Jose Rocha

João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha — 1º Presidente (Governador) e fundador da Província (Estado) do Amazonas; mandato de 1º de janeiro a 27 de junho de 1852. Há um monumento em sua homenagem na Praça 5 de Setembro (Praça da Saudade) e uma praça com seu nome, a Praça Tenreiro Aranha (Praça do Índio). O município de Presidente Figueiredo foi criado em 10/12/1981; algumas fontes atribuem o nome ao presidente João Batista de Oliveira Figueiredo (1979–1985).

Dr. Antônio Constantino Nery — Governador do Amazonas (1904–1908). Idealizou e construiu a penitenciária localizada na Avenida Sete de Setembro (atualmente abandonada) e a Biblioteca Pública do Amazonas. Seu nome batiza uma das avenidas mais movimentadas de Manaus, a Avenida Constantino Nery.

Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa — Superintendente (Prefeito) de Manaus (1902–1907). Mandou construir a Vila Alcida, em homenagem à filha (o famoso Castelinho, Rua São Luís, Adrianópolis, 1906), e deu nome ao Mercado Municipal Adolpho Lisboa.

Foto: Revista Archivo do Amazonas — 23/04/1907.





terça-feira, 23 de setembro de 2025

Manifestações de Urbanidade: Caminhar pelas Ruas de Manaus

 Por José Rocha

Tenho o hábito de caminhar por Manaus, especialmente pelo Centro Histórico. Nessas andanças, observo algo que se repete diariamente: a falta de respeito e de educação por parte de muitos pedestres. Pode parecer exagero, mas atitudes simples — ou a ausência delas — mostram o quanto ainda precisamos evoluir em termos de convivência urbana.

Não existe uma norma escrita sobre como andar pelas calçadas, mas certos comportamentos se consolidaram como convenções sociais. Um dos mais básicos é manter-se à direita e permitir que quem vem no sentido contrário passe pela esquerda. Essa prática simples evita esbarrões e melhora o fluxo. No entanto, são poucos os que a respeitam.

Mesmo tentando sempre me manter do lado correto, frequentemente me deparo com obstáculos: ambulantes que ocupam a calçada, mercadorias de lojistas invadindo o espaço dos pedestres, e pessoas que insistem em vir na contramão, forçando passagens com pressa ou impaciência, provocando esbarrões desnecessários e facilmente evitáveis.

Caminho com frequência até o Parque Rio Negro, no bairro de São Raimundo. Ao atravessar a Ponte Fábio Lucena, procuro manter-me sempre à direita. Ainda assim, sou surpreendido por pessoas caminhando no mesmo sentido, que se recusam a dividir o espaço. Quando não cedo, algumas reagem com impaciência, como se o equívoco fosse meu.

Para agravar a situação, grupos de amigos ou familiares, com três ou quatro pessoas, costumam andar lado a lado, bloqueando completamente a calçada e obrigando os demais a desviar pela rua. Nessas situações, o mais adequado seria que caminhassem em fila dupla, especialmente em calçadas estreitas.

Outro hábito prejudicial é o de parar no meio da calçada para falar ao celular, sem se preocupar com quem vem atrás. Uma simples mudança de posição para um canto resolveria o problema. Também é essencial lembrar que idosos, pessoas com deficiência, gestantes ou quem estiver com carrinho de bebê devem sempre ter prioridade. E, se possível, devemos oferecer ajuda com educação e gentileza.

Um detalhe de etiqueta muitas vezes ignorado: ao caminhar em casal, o ideal é que a mulher fique do lado esquerdo, mais protegida do trânsito. Essa convenção, além de simbólica, tem uma função prática. E vale lembrar: não se deve comer andando, nem jogar lixo no chão. Fumar em meio à multidão também é desrespeitoso — e infelizmente já vi jovens fumando maconha abertamente nas calçadas, sem qualquer pudor.

Outro problema recorrente é o uso descuidado do guarda-chuva, que pode atingir o rosto de outras pessoas. E, ainda mais grave, a desrespeito de homens que urinam em locais públicos, como atrás de postes, sem se importar com a presença de mulheres, crianças ou qualquer outra pessoa.

Mesmo que essas regras de convivência não estejam escritas, elas fazem parte do que se espera de uma sociedade minimamente civilizada. Cabe a cada um de nós cultivar e espalhar esse tipo de comportamento — inclusive nas redes sociais, que têm o poder de formar opinião e transformar hábitos.

A etiqueta nas ruas é, acima de tudo, um exercício de empatia. A cidade é de todos, e pequenos gestos de respeito tornam a convivência mais leve e harmoniosa.




sábado, 20 de setembro de 2025

ESCOLA DE DACTILOGRAFIA DA DONA EDUARDA

 


Por José Rocha

Durante muitos anos, a Escola de Dactilografia Nossa Senhora de Lourdes formou várias gerações de manauaras, tendo como professora a senhora Eduarda Pinto Ribeiro, na Rua Monsenhor Coutinho.

O curso de dactilografia era a arte de escrever à máquina, desejado por muitas pessoas, o que conferia status na sociedade; inclusive, ao término do curso, os formandos tinham direito a uma formatura com todas as formalidades possíveis, além de diploma confeccionado em papel nobre.

Quem possuísse um diploma de dactilografia tinha uma grande bagagem no currículo vitae, com melhores condições para galgar um emprego em empresas comerciais ou em instituições bancárias, principalmente para o cobiçado cargo de carreira no Banco do Brasil.

Muitos jovens do centro da cidade passaram pela Escola da Dona Eduarda. Fui um deles, onde adquiri grande agilidade para datilografar sem olhar para o teclado. Eram máquinas pesadas e com teclados parecidos com os atuais de computador, equipadas com fitas de pano embebidas em tinta preta e vermelha, utilizando-se papel carbono para cópias extras e corretivos do tipo Helios, Cabex e Errox Ex.

Para quem trabalhava no jornalismo, era cruel, pois não se admitiam erros nem borrões; qualquer descuido fazia com que todo o trabalho fosse descartado e tivesse de ser recomeçado. Em decorrência disso, um bom curso de datilografia era primordial.

Com a invasão em massa dos computadores pessoais (PCs), foi um golpe mortal nas máquinas de dactilografia, mesmo para quem utilizava as máquinas elétricas. Os cursos foram fechados e as empresas que faziam manutenção nas máquinas amargaram grandes prejuízos.

A Escola de Dactilografia da Dona Eduarda teve o mesmo fim. A última turma que ela formou foi em 1979; ainda assim, ela guardou durante duas décadas suas máquinas no porão de casa.

No ano de 1999, o jornal A Crítica fez uma pequena reportagem sobre sua escola. Ela já estava com oitenta anos, apresentava problemas auditivos e morava com uma irmã adotiva, sem filhos, pois nunca se casou. Após vinte anos guardando suas máquinas, resolveu vendê-las, mas ainda relutava em se desfazer das máquinas da marca Remington, as maiores e mais valiosas.

Seu cunhado, Sebastião de Oliveira Maia, de 88 anos e aposentado, disse à reportagem: “Alguém deve estar influenciando a Eduarda, pois isto aqui, psicologicamente, é a vida dela. Apesar dos computadores, ainda existem pessoas que querem aprender o ABC da dactilografia. Sua última turma foi em 1979, mas para ela parece que foi ontem, e ainda espera que novas alunas batam à sua porta.”

Ela confessou à reportagem: “Nunca tive namorados; minha vida sempre foi esta escola. Meus ex-alunos, apesar de terem trocado o ‘bater’ pelo ‘digitar’, ainda fazem questão de me agradecer por receberem minhas orientações de professora.”

A cada dez anos, as tecnologias mudam completamente, mas nada é mais importante do que lembrar e agradecer aos nossos mestres com carinho. Sempre que passo em frente à Escola da Dona Eduarda, na Rua Monsenhor Coutinho, lembro com saudade da minha professora de dactilografia.

Fonte e foto: Jornal A Crítica, edição de 1999



quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O DELEGADO DO DIABO


 Por José Rocha

Na Manaus de antigamente, conhecíamos praticamente todas as autoridades pelo nome — entre elas, os delegados de polícia. Um deles entrou para a história como o “Delegado do Diabo”.

Para os mais jovens, que não sabem nem o nome do secretário de Segurança Pública e muito menos dos delegados atuais, soa estranho ouvir que, em Manaus, havia um homem da lei apelidado de “Delegado do Diabo”. Com razão: a princípio, dá a impressão de que ele teria feito pacto com forças malignas.

Nada disso, meu jovem! Estamos falando de José Ribamar Soares Afonso — paraense, bacharel em Direito, assistente social, jornalista e um verdadeiro maníaco por quadrinhos, um gibiófilo.

Ele morava na Avenida Getúlio Vargas, número 193, e foi casado com a professora Heloisa Helena Antony Afonso, com quem teve duas filhas: Adriana Eugênia e Viviane.

No jornalismo, passou por A Gazeta, O Jornal, Diário da Tarde e Diário Carioca, do Rio de Janeiro — trabalhando em todos até o fechamento.

Quando menino, José Ribamar abriu pela primeira vez uma revistinha Tico-Tico, em 1947, e levou uma bronca da mãe: “Larga isso, menino, é coisa do demônio”. Mas ele não obedecia e continuava lendo as “coisas do Satanás” no banheiro e nas matinês dos cinemas Polytheama e Guarany, que ficavam próximos à sua casa.

Naquela época, considerava-se que essas obras podiam distorcer a personalidade em formação das crianças, por isso professores as proibiam — e sua mãe não o deixava ler tais gibis.

Sem exagero, José Ribamar chegou a ter a maior coleção de quadrinhos da América Latina, com mais de três mil volumes encadernados. Viajou a Portugal, Espanha e França para participar de exposições e adquirir exemplares. Era amigo do radialista Joaquim Marinho, outro grande colecionador da cidade.

Mas por que o chamavam “Delegado do Diabo”? Boa pergunta, que merece resposta.

Ele fez curso de Polícia e Trânsito nos Estados Unidos e ganhou fama nacional ao desvendar o massacre da expedição do padre Calleri pelos índios Waimiri-Atroari.

O apelido, porém, veio de um fotógrafo do jornal A Crítica, Irandi Ferreira. Por ser rigoroso no cumprimento da lei e enérgico em seus plantões — sempre que ele assumia, surgiam crimes dos mais horrendos —, o fotógrafo achou que ele tinha “parte com o diabo”.

José Ribamar adorava diligências policiais e era considerado um “maluco” por impor ordem em Manaus de 1968 a 1979 sem disparar um único tiro. Combatia sem trégua o violento mundo da marginalidade. No DETRAN, chegou a esvaziar centenas de pneus de motoristas infratores. Eita!

Que história doida, não é mesmo?

Após aposentado, voltou a cavalgar o velho Oeste ao lado de Kid Colt, Zorro e Tecas; cortou a galáxia nas naves de Flash Gordon; e perambulou pelas ruas de Gotham City, sempre na esperança de encontrar Batman e Robin em ação — nada era impossível para um colecionador de gibis.

Em 1980, a comunidade reconheceu seu trabalho: o “Delegado do Diabo” recebeu o título de Cidadão de Manaus, em propositura do vereador Walter de Miranda Freitas (PDS).

Segundo o nobre vereador, José Ribamar foi um homem íntegro, muitas vezes injustiçado como delegado-geral de Polícia, pois tornou a instituição mais eficiente e proveitosa para a segurança e tranquilidade da comunidade. Não dava colher de chá aos bandidos e combatia a corrupção, gerando inimizades e despeitos.

O tempo passou, a cidade cresceu, o trânsito ficou infernal e a criminalidade, descontrolada — faz muita falta, com certeza, a figura do “Delegado do Diabo” para colocar ordem em Manaus.

Fontes: Jornal A Crítica e Jornal do Comércio

Foto: Jornal A Crítica



quarta-feira, 17 de setembro de 2025

PROMOÇÃO LITERÁRIA DE ESCRITOR MANAUARA

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Vamos juntos.







ÁRIA RAMOS SUBINDO AO CÉU – AMOR E TRAGÉDIA EM 1915 Trecho do meu livro – José Rocha

 



 

“...Para coroar a vitória do nosso desfile na Avenida Eduardo Ribeiro, o grupo marcou um grande baile na noite da terça-feira Gorda de Carnaval, alugando o Grêmio Recreativo Ideal Clube, sede do antigo Clube Internacional, autorizados pelos diretores Desembargador Franklin Washington de Sá e Almeida e José Lourenço Barroco, pois já haviam comemorado o seu famoso Baile de Carnaval no Sábado Gordo – ficava nos altos de um bonito prédio situado na Rua Henrique Martins, 23, esquina com               a Avenida Eduardo Ribeiro, anos antes de ser transferido para o local definitivo na Avenida Ribeiro com a Rua Monsenhor Coutinho.

 

Cheguei ao Ideal Clube em companhia de meu pai Lourenço Ramos e minhas duas irmãs Celeste e Pátria Ramos, no início da noite, para um jantar requintado, com um bufê composto por uma variedade de pratos que destacavam a influência europeia, especialmente francesa, e ingredientes locais exóticos. Esse banquete servia para demonstrar o poder e a riqueza da elite local, pois, apesar de a decadência começar a aparecer, mostrava o estilo de vida sofisticado e cosmopolita que parte da sociedade ainda possuía.

 

O clube estava rigorosamente decorado para o evento, deslumbrando a todos com a beleza das cores, excedendo a luminosidade das luzes, com lustres de cristal, lâmpadas e luminárias importadas no estilo ‘art nouveau’.  Havia a Sala de Baile bem espaçosa, com pista de dança e palco para os músicos da orquestra. Esses elementos criavam um ambiente de luxo e sofisticação, refletindo a riqueza e a influência cultural europeia na sociedade manauara da época, imperando o requinte e a beleza das damas adornando a coreografia. Tudo era felicidade e harmonia, muitos fantasiados e mascarados, com coros de gargalhadas.

 

Após o banquete, iniciou-se um baile animado pela melhor orquestra da cidade, formada por músicos da Orquestra do Cinema Odeon, da qual eu fazia parte, mas naquele dia eu estava ali apenas para me divertir com os meus familiares e amigos. Esta orquestra era a mais afinada, harmoniosa e com o maior número de figurantes, tocando músicas que estavam mais em evidência, com maior destaque para as ‘Polcas’, uma dança e música de salão originária da Boêmia e modificada no Brasil para o Chorinho.          

 

E por último, a enternecedora, que toca, enternece e sensibiliza, a ‘Valsa’ ‘Subindo ao Céu’, do brasileiro Aristides Manuel Borges, uma música instrumental, sendo uma partitura focada nos arranjos e melodia executada pelos instrumentos musicais - essa me marcou profundamente e foi aquela pela qual serei lembrada por várias gerações de amazonenses.

 

Eu vestia uma túnica de Musa da mitologia grega, longa e volumosa, branca, confeccionada com tecido fino de seda e linho, rendas, ajustada à minha cintura com um fio, criando uma silhueta charmosa, mangas justas até                o cotovelo. Não usava chapéu, um acessório que era essencial para as mulheres da alta sociedade, e com os meus cabelos castanhos soltos, usando uma sapatilha branca amarrada sob uma meia longa, feita sob medida, combinando com o meu traje elegante e sofisticado, um vestuário que era influenciado pelas tendências europeias da época.

 

Como eu era uma pessoa que havia caído no gosto dos Paladinos, sendo a sua estrela maior naquele baile. Por ser considerada de uma beleza estonteante e sendo muito gentil com todos, despertei uma ciumeira entre os fãs apaixonados. Todos olhavam para mim, desejando dançar uma parte e a todos gentilmente atendia, com gestos brandos, maneiras polidas, espírito fino e um sorriso meigo, eu era considerada a estrela maior da festa. Dancei primeiro com o Antônio Craveiro, um amazonense de vinte dois anos, o qual tínhamos pretensões de casamento, após dançarmos sentei à mesa onde estava Mário Travassos, um paraense de dezesseis anos, o que provocou um pouco de ira nele, pois havia entre os dois uma condição de inimizade por desavenças em partidas de jogos de futebol.

 

Neste interim, apareceu na festa um inglês chamado George Fenthon, um gringo dos olhos azuis e cabelos loiros, um pouco mais velho do que eu; ele trabalhava numa empresa inglesa chamada de Manáos Harbour, que administrava o Roadway - ele era muito conhecido e querido pela nata da sociedade manauara. Ficou encantado com a minha beleza, trazendo um copo de água e pediu gentilmente para dançamos, ao qual aceitei de pronto o convite, de repente, parou de dançar e, como eu era de todos conhecido pelos meus dons musicais, fui convidada pelo grupo de amigos que compunha a orquestra para me apresentar com eles, tocando em meu violino a valsa ‘Subindo ao Céu’, talvez um prenúncio de que algo tão terrível iria acontecer comigo em seguida.

 

Após a minha apresentação, voltei à mesa, onde ri e me diverti com outro fã, o Ilydio Barroco, um português da firma Barroco & Cia., quando se aproximou o jovem Mário Travassos, filho do Coronel Antônio R. de Souza, pedindo uma luva que havia esquecido em cima da mesa. Era o final da festa, aproximadamente umas duas horas da manhã de quarta-feira de cinzas, trazendo consigo um momento sinistro, selando o destino cruel da minha vida naquela noite encantadora. Fui atingida pelo disparo de um revólver, vindo do jovem Mário Travassos, que o empunhara de forma estúpida e desequilibrada. Nem todos ouviram aquela detonação, pois achavam que era o estourar de mais um champanhe ou o estampido de lança-perfume quebrado. No entanto, todos se calaram quando ouviram o meu ‘aí’ bem alto. Todos correram e me encontraram curvada sobre a cadeira, com a cabeça apoiada sobre a mesa, além de bastante sangue em meu vestido próximo à minha região pélvica. Houve um pânico, medo e uma correria geral. Meu pai, em choque, correu até a mesa onde eu estava. Colocou as mãos na cabeça, balançando de um lado para o outro, ajoelhou-se e chorou desesperadamente, exclamando: “Meu Deus, o que fizeram com a minha amada filha!” Minhas duas irmãs, em um estado de pânico absoluto, gritavam pelo salão do baile, incapazes de acreditar no horror que estavam presenciando. A cena de desespero da nossa família foi tão intensa que muitas pessoas ao redor começaram a chorar, comovidas pela tragédia que havia se abatido sobre uma pessoa tão querida e amada por todos os presentes na festa....”


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domingo, 14 de setembro de 2025

INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT


Por José Rocha

No dia 9 de julho de 1984, o jornal A Crítica publicou em duas páginas inteiras um artigo do escritor e artista plástico Moacir de Andrade, intitulado “Instituto Benjamin Constant – 1884-1984”, um excelente trabalho de pesquisa dos cem anos do nosso querido IBC.

O imóvel pertencia ao coronel Leonardo Marques Brasil, conhecido como Barão de São Leonardo. Ele construiu ali a Chácara de São Leopoldo e, em seguida, vendeu o palacete ao governo do Estado do Amazonas, na época de Theodoro Souto, para abrigar o Museu Botânico do Amazonas, idealizado pelo botânico Joaquim Barbosa em 1884 e encerrado em 1888 para tornar-se o Asilo Orfanológico do Amazonense (Lei n.º 641, de 02/01/1884), depois denominado Elisa Souto.

O governador Eduardo Ribeiro transformou o Asilo Elisa Souto no Instituto Benjamin Constant, por meio da Lei n.º 11, de 20/04/1892, para oferecer instrução primária e, sobretudo, educação moral e doméstica às meninas órfãs.

O governador batizou o instituto em homenagem ao seu mestre e amigo Benjamin Constant, a quem admirava profundamente como militar e fundador da República do Brasil. Ele também recebeu homenagem no nome da Terceira Ponte da Sete de Setembro, a Ponte Benjamin Constant.

O primeiro diretor foi o Dr. Luiz Duarte da Silva. Ele contratou a Congregação das Filhas de Sant’Ana, confiando-lhes, sob termos legais entre o governo e a irmandade, os serviços administrativos — acordo assinado em 04/05/1892 pelo próprio governador e pela soror Ana Victoria Anchetti, e meses depois enriquecido pela chegada de outras irmãs diretamente da Itália. No ano seguinte, o Instituto já ganhava a admiração e o respeito da sociedade manauara.

Com o passar dos anos, o número de internas aumentava e o obrigava o governo estadual a ampliar constantemente as instalações do prédio. Em 29/07/1929 foi construída uma capela com a imagem de Nossa Senhora de Sant’Ana, padroeira do Instituto e da irmandade. No governo do Dr. Durval Pires Porto, foi erguido um edifício para fins teatrais.

Todos os governadores que se sucederam e as famílias da melhor sociedade sempre apoiaram o trabalho das irmãs no IBC. Um dos maiores benfeitores foi o Dr. Luiz Maximino de Miranda Corrêa, principal diretor da Fábrica de Cerveja Miranda Corrêa — ele residia num palacete que foi demolido para dar lugar ao edifício que leva seu nome na Avenida Eduardo Ribeiro. O governador Álvaro Maia, além de político, era escritor e poeta, e colaborou intensamente com o IBC.

Apesar do apoio, as despesas eram muito altas, pois o número de internas crescia sem parar. Isso levou o governo a criar um pensionato, cujas candidatas tinham de pagar mensalidades.

Um fato curioso: uma das alunas, Eunice Menezes Jackmont, tornou-se freira da Congregação das Filhas de Sant’Ana, recebendo o nome de Soror Argênia Jackmont (da família do artista plástico Jair Jackmont). Ela foi professora no IBC e, depois, superiora do Hospital Santa Casa de Misericórdia.

As irmãs confeccionavam os mais belos vestidos de noiva das famílias ricas de Manaus, além de todo o enxoval, produzidos com esmero e dedicação. Eram verdadeiras obras de arte que despertavam a curiosidade da população. Também preparavam bolos de aniversário e de casamento e doces para os grandes eventos sociopolíticos, sempre com o auxílio das alunas internas.

A melhor Banda-Música de Manaus pertencia ao IBC. Desfilava nos dias 5 e 7 de setembro, vestindo saias vermelhas e blusas creme. Tão bem ensaiadas, muitas vezes era confundida com a banda da Polícia Militar ou do 27º Batalhão de Caçadores — tamanha era a beleza e a harmonia com que executavam as marchas militares, arrancando aplausos da multidão em ambos os lados da avenida Eduardo Ribeiro.

Todas as internas faziam parte da Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus; havia também a Liga dos Benjamins e Tarcísios do Sagrado Coração de Jesus. A disciplina era rigorosa: acordavam às 5h30, tomavam banho, vestiam o uniforme e seguiam para a capela, onde assistiam à Santa Missa — comungavam e confessavam em jejum. Em seguida, iam ao refeitório e, às sete em ponto, começavam as aulas, que se estendiam até as 11h. Após o almoço, às 12h, tinham lazer até as 13h, quando se dirigiam às salas de ofícios domésticos, de acordo com suas aptidões: música, pintura em tela, coral, datilografia, ginástica, teatro, corte e costura, bordados, arranjos florais e demais trabalhos domésticos — exceto lavanderia, que contava com funcionários pagos pelo governo.

Havia um dia de festa especial: 26 de julho, dedicado a Nossa Senhora Sant’Ana. Nesse dia não havia aula e tudo recebia um tratamento solene. O Instituto era enfeitado para receber familiares e amigos — as alunas penduravam cortinas bordadas em todas as janelas. Durante o dia, desfrutavam de doces, refrescos e sorvetes oferecidos pelos benfeitores. À noite, as melhores recebiam prêmios e assistiam a peças literomusicais.

O governador Plínio Coelho trabalhou incansavelmente pela melhoria do IBC, mas foi Gilberto Mestrinho quem ficou conhecido como “o namorado do colégio” pelos inúmeros serviços prestados. Ele construiu várias salas de aula, que com entrada pela rua Tapajós ficaram conhecidas como bloco Antenor Sarmento Pessoa.

Em 1963, encerrou-se o externato, permanecendo apenas as meninas internas — era o início do fim do internato, que durou oitenta anos de grandes benefícios ao Amazonas, sendo extinto em 1968. No ano seguinte, o IBC começou a aceitar alunos do sexo masculino pela primeira vez em sua história.

A partir de 1972, por meio da Resolução n.º 5 da Secretaria de Educação do Amazonas, o IBC tornou-se a Unidade Educacional Benjamin Constant. De 1998 a 2003, funcionou como Centro de Informática Benjamin Constant (Ceinfor). A partir de 2003, passou a ser o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), oferecendo cursos técnicos e de qualificação profissional. Na rua Tapajós ainda existem duas escolas estaduais: a Escola Estadual Professor Antenor Sarmento Pessoa e a Escola Estadual Frei Silvio Fagheggy.

O artigo de Moacir de Andrade, ao celebrar os cem anos do IBC, me chamou muita atenção. Tenho lembranças vivas daquele tempo em que fui aluno do Instituto: jogava bola na quadra, escapava nos finais de semana com a molecada da rua Tapajós para tomar banho num poço artesiano e colher frutas — e sempre era corrido pelo bedel quando nos pegava. Essas memórias fazem parte da minha história e guardo cada detalhe com carinho.

Passados 141 anos, o prédio principal do IBC continua firme e forte, tombado pelo IPHAN. Ele permanece para a posteridade e, acima de tudo, segue formando novas gerações de amazonenses.

Fontes:

Jornal A Crítica

Secretaria de Educação

BLOGDOROCHA

Livro ‘A Vila Paraíso, José Rocha’

Fotos:

Jornal A Crítica/Acervo Moacir de Andrade










sábado, 13 de setembro de 2025

AVIÃO DA PRAÇA DA SAUDADE

 


Por José Rocha

Quem foi pai, mãe, criança ou adolescente na segunda metade da década de setenta jamais esquece a emoção que despertava a novidade na Praça da Saudade: o famoso Avião da Praça da Saudade.

Era véspera de Natal de 1977 quando um imponente DC-3 foi montado ali, ao lado da Avenida Ramos Ferreira, bem em frente ao atual prédio da Caixa Econômica Federal. Ao seu lado, uma placa comemorativa trazia estes versos: “A presença discreta e silenciosa desta aeronave na principal Praça de Manaus, com sua proa voltada para os céus, relembra não apenas as realizações da ‘Cruzeiro’, mas também de suas coirmãs ‘Varig’ e ‘Tropical Hotel’, vindas do sul longínquo para a Amazônia. Esses gestos simbolizam o amor e a solidariedade humana, tão propícios de serem evocados. Nesta véspera de Natal, data felizmente escolhida pela dinâmica administração da Prefeitura de Manaus, realizamos esta inauguração. 24/12/1977.”

O prefeito daquele período era o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, o “Teixeirão”, que governou Manaus de 7 de abril de 1975 a 21 de março de 1979, nomeado pela ARENA — sucedendo Frank Abrahim Lima e antecedendo José Fernandes.

Na juventude, tive o privilégio de entrar naquele avião pela primeira vez. Anos depois, levei meus filhos pequenos para reviverem o mesmo encanto. A Praça da Saudade transformava-se em ponto de encontro para turistas e moradores, sempre lotada aos finais de semana, tomada por risos, brincadeiras e olhares curiosos para a cabine de pilotagem.

Por sete anos, aquele DC-3 foi o cartão-postal maior da nossa cidade, até que, em 24 de maio de 1984, a comoção tomou conta de todos. A população, indignada, assistiu ao desmanche que arrancou o trem de pouso e as rodas — retirados pela empresa Rico Táxi Aéreo — e, em seguida, viu o resto da fuselagem ser fragmentado a machado e marreta por operários contratados por ferros-velhos. Parecia uma produção incansável: não houve pausa nem para um último olhar.

Jovens pulavam, gritavam e protestavam, mas não conseguiram evitar o fim daquele símbolo. Com esforço, moradores conseguiram resgatar a placa de doação e uma das portas, guardando-as como relíquias de um tempo em que a praça era palco de sonhos. Todos apontaram o então prefeito Amazonino Mendes como responsável: ele autorizara o desmonte sem ouvir a comunidade e deixara de escalar um guarda municipal para proteger o DC-3 dos vândalos.

A foto publicada no jornal A Crítica, em 24 de maio de 1984, imortalizou o instante em que os operários destruíam o Avião da Praça da Saudade. Hoje, a nossa praça jaz esquecida: não há mais risos infantis nem curiosos passeios em volta da cabine. À noite, abriga apenas moradores de rua e sombras solitárias, um silêncio que dói na memória de quem viveu dias tão vibrantes.